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Título

A concepção de linguagem do PNAIC e implicações metodológicas para o ensino da linguagem escrita: um estudo a partir da psicologia histórico-cultural

Orientador

Anna Maria Lunardi Padilha

Autor

Patrícia Maria Guarnieri Ramos

Palavra chave

Ensino da leitura e da escrita. PNAIC. Psicologia Histórico-Cultural. Pedagogia Histórico-Crítica.

Grupo CNPQ


Programa

MS - EDUCAÇÃO (PPGE)

Área

CIÊNCIAS HUMANAS

Data da defesa

22/02/2017

Nº Downloads

1305

Resumo

A pesquisa de que resultou esta dissertação de mestrado tem como tema o ensino da linguagem escrita nas séries iniciais do Ensino Fundamental e, como problema, o processo de desmetodização desse ensino a partir da entrada da concepção construtivista como base para os documentos oficiais e políticas públicas para a alfabetização. Toma como objeto de estudo o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), programa criado pelo governo federal em 2012 em parceria com os estados e municípios com o objetivo declarado de formar professores alfabetizadores com a finalidade de atingir a meta de alfabetizar todos os alunos até o 3º ano do Ensino Fundamental. Como objetivo, analisa a concepção de desenvolvimento humano, de linguagem, de linguagem escrita e as implicações metodológicas presentes no caderno de apresentação e nos cadernos de formação de professores correspondentes ao 3º ano do Ensino Fundamental. Como método de investigação, assume o materialismo histórico e dialético de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) e os referenciais teórico-metodológicos da Psicologia Histórico-Cultural e da Pedagogia Histórico-Crítica, ambas com fundamentação na filosofia marxiana. Igualmente, apoia-se na obra de Maria do Rosário Mortatti, que estuda a história da alfabetização no Brasil e que propõe o enfrentamento das dificuldades por que passam as crianças e os professores no processo de alfabetização no Brasil. Nesses fundamentos, encontra-se a intersecção teórico-metodológica que aponta para a defesa da escola pública e o ensino de qualidade para a classe trabalhadora. A dissertação assume os conceitos da Psicologia de Vigotski, tais como o caráter histórico e social do desenvolvimento e o processo de ensino e de aprendizado como necessário e determinante para o desenvolvimento das funções psíquicas culturais. A linguagem é entendida como função psicológica superior, que age em interfuncionalidade com as demais funções: o pensamento, a atenção, a memória, a percepção e o raciocínio lógico, não servindo apenas à adaptação do indivíduo ao seu meio, como sugere Piaget. É instrumento de transformação do homem e de sua cultura. Transformação fundamental no princípio marxista: o homem transforma a natureza e dialeticamente se transforma. Como metodologia para a análise do PNAIC, utilizou-se a configuração textual, uma ferramenta desenvolvida por Mortatti (2000). Como resultado, a pesquisa identifica que o PNAIC mantém o construtivismo de Jean Piaget como base epistemológica para o ensino da linguagem escrita, assumindo o desenvolvimento humano como interação entre o sujeito e o meio e, inspirado fortemente no modelo biológico, considerando que sejam as estruturas cognitivas as que favorecem e possibilitam o aprendizado em níveis cada vez mais complexos. A linguagem é explicada como função de comunicação entre indivíduo e seu meio, estando ausente a noção de que ela é constitutiva do psiquismo e que contribui decisivamente para o desenvolvimento do pensamento humano em suas formas superiores. Assumo, portanto, que, para o ensino da linguagem escrita, faz-se necessária a definição do conteúdo e da forma com vistas aos destinatários; um caminho coerente com a visão de mundo e de práxis revolucionária. A contribuição deste estudo soma-se às análises de interlocutores que vêm, desde o final do século XX, denunciando a hegemonia da concepção construtivista e o quanto esta colabora com a manutenção do não ensino efetivo da linguagem escrita aos alunos da escola pública no Brasil.

Abstract

The theme of this research is the teaching of written language in the initial grades of elementary school and, its problem is the process of de-methodizing of this teaching with the entry of the constructivist conception as a basis for official documents and public policies for literacy. It takes as object of study the National Pact for Literacy in the Right Age (PNAIC), a program created by the federal government in 2012 in partnership with the states and municipalities with the declared objective of training literacy teachers in order to achieve the goal of alphabetize all students up to the 3rd year of elementary school. As a goal, this research analyzes the conceptions of human development, language, written language and the methodological implications in the presentation notebook and in the training books of teachers corresponding to the 3rd year of elementary school of PNAIC. As a method of investigation, it assumes the historical and dialectical materialism of Karl Marx (1818-1883) and Friedrich Engels (1820-1895). It admits also the theoretical-methodological references of Historical-Cultural Psychology and Historical-Critical Pedagogy, both with the same foundation in Marxian philosophy. It is also supported by the work of Maria do Rosário Mortatti on the history of literacy in Brazil and its critical discussions, since it proposes to confront the difficulties that our children and the teachers are experiencing in the literacy process. In these foundations, there is the theoretical-methodological intersection that points to the defense of the public school and the teaching of quality for the working class. As a methodology for the analysis of the PNAIC, it was used the textual configuration, a tool developed by Mortatti (2000) and that has contributed to the conquest of the autonomy of the field of the history of literacy in Brazil. As a result, the research identifies that the PNAIC maintains the constructivism of Jean Piaget as an epistemological basis for the teaching of written language. In this way, human development is assumed as the interaction between the subject and the environment and, strongly inspired by the biological model, admits that it is the cognitive structures that favor and enable learning at increasingly complex levels. Language is explained as a function of communication between individual and his environment, absent the notion that it is constitutive of the psyche and that contributes decisively to the development of human thought in its higher forms. The dissertation assumes the concepts of Vygotsky's Psychology, such as the historical and social character of development and the process of teaching and learning as necessary and determinant for the development of cultural psychic functions. Language is thus a superior psychological function that acts in interoperability with the other functions: thought, attention, memory, perception and logical reasoning, not only serving the individual's adaptation to his environment, as suggested by Piaget. It is an instrument of transformation of man and his culture. Transformation indicated in the Marxist principle: man transforms nature and is dialectically transformed. It is assumed, therefore, that, for the teaching of written language, it is necessary to define content and form with a view to the recipients, a path coherent with the worldview and revolutionary praxis. This research contributes to the analysis of interlocutors who come from the beginning of this century denouncing the hegemony of the constructivist conception and how much it collaborates with the maintenance of the effective teaching of the written language to the students of the public school in Brazil.