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Título

A criança surda e seus interlocutores num programa de escola inclusiva com abordagem bilíngüe

Orientador

Maria Cecília Rafael de Góes

Autor

Beatriz Aparecida dos Reis Turetta

Palavra chave

Inclusão escolar. Educação de surdos. Abordagem bilingüe.

Grupo CNPQ


Programa

MS - EDUCAÇÃO (PPGE)

Área

CIÊNCIAS HUMANAS

Data da defesa

21/08/2006

Nº Downloads

1916

Resumo

O presente trabalho aborda a problemática da educação oferecida às crianças surdas e busca discutir as possibilidades de articulação entre iniciativas de educação bilíngüe e de inclusão escolar para esses alunos. A pesquisa aqui relatada focaliza uma instituição de educação infantil da rede pública que desenvolve um programa com esse duplo propósito, propiciando ao aluno surdo a interação com educadores ouvintes - professora, intérprete e outros profissionais - e um educador surdo, além da convivência com parceiros ouvintes e surdos. O estudo deu ênfase ao papel da linguagem na formação da criança, referenciando-se em autores que assumem a corrente histórico-cultural e/ou a perspectiva enunciativo-discursiva na investigação da educação de surdos. O objetivo específico foi analisar os modos pelos quais as crianças surdas envolvem-se nas relações interpessoais e na comunicação com os diversos interlocutores presentes na sala de aula, em particular com os adultos educadores, cujos papéis são diferentes no que concerne ao trabalho pedagógico e aos compromissos com o aluno incluído. Os procedimentos abrangeram filmagens de atividades em classe, entrevistas com educadores e anotações de campo sobre outros aspectos de interesse. As análises indicam algumas limitações das possibilidades de interlocução das crianças surdas, vinculadas aos tipos de atividades desenvolvidas (como canto/música e conto de história) e, sobretudo, à demanda de atenção visual decorrente da presença de diferentes educadores, com posições distintas em sala de aula. Quanto a esse segundo apontamento, ficaram evidenciados encontros e desencontros no que diz respeito aos papéis da professora, da intérprete e do educador surdo, além de ambigüidades na atribuição de responsabilidade a cada um em termos da atuação pedagógica. Diante desses interlocutores adultos (além de outros, menos regularmente presentes), as crianças surdas respondiam de maneiras variadas, mas geralmente reveladoras de dificuldades tanto para escolher "para quem" e "quando" olhar, como para compreender e participar das atividades em ocorrência. Considerando essas experiências das crianças e o tempo insuficiente de atividades adicionais exclusivas para o grupo de surdos, nota-se que as condições ainda não lhes permitem um bom ritmo de aquisição da língua brasileira de sinais. No fechamento do texto são salientados os méritos do programa e os vários avanços efetivados; ao mesmo tempo, são apontados problemas sugeridos pelos achados. Esses problemas, embora não possam ser enfrentados apenas no âmbito de decisão da equipe coordenadora e da escola, em razão especialmente das políticas de redução de custos e da disposição de instâncias educacionais superiores, sugerem a necessidade de mudanças urgentes, para evitar o risco de manter as metas da educação bilíngüe em posição de subalternidade às da educação inclusiva entendida como atendimento na escola regular.

Abstract

This work is oriented to the issue of deaf children education and to proposals that attempt to articulate two approaches: bilingual education and school inclusion. The field work was carried out in a childhood education institution (for the age range of 3-6 year old) which develops a program with this double purpose and offers to the deaf students experiences of interaction with hearing professionals (teacher, Sign Language interpreter and others) and with a deaf educator, besides the conviviality with deaf and hearing partners. The study emphasized the role of language in the formative process of the child, taking as theoretical references works in the area of deaf education that are based on the historical-cultural approach and/or the dialogical-discoursive perspective. The specific objective was to investigate the ways by which the deaf children got involved in the interpersonal relationships and in the communication with the various interlocutors present in the classroom, especially with the adults, whose roles differed as to the pedagogical work and commitments with the deaf students. The procedures consisted of video-recordings of classroom activities, interviews with the educational professionals and field notes relative to other aspects of interest. The analyses indicate limitations for the interlocution of deaf children which are linked to the types of activities (such as music/singing and storytelling) and mostly to the demands of visual attention due to the presence of several educators, with different positions in the classroom. Regarding the latter aspect, the roles of the teacher, the interpreter and the deaf educator seemed to be inadequately established, generating ambiguities concerning each one's responsibility for pedagogical actions. In the face of these adult interlocutors (apart from other, less regularly present), the deaf children responded in various ways, generally indicative of the difficulties to choose "whom" and "when" to look at, as well as to understand and participate of the ongoing activities. Considering these experiences and the insufficient activities offered exclusively to the deaf group, we can infer that these conditions do not allow for a desirable flow and pace in Sign Language acquisition. In the discussion, we point to the merits of the program and to the various advances it achieved; at the same time, we resume the problems indicated by the analyses. Although some of these problems cannot be faced only in the sphere of decision of the program coordinating staff and the school, due specially to the policies of cost reduction and the dependence on other educational instances, the findings suggest the need of urgent changes in order to avoid the risk of subordinating the goals of bilingual education to those of inclusive education conceived as the insertion of the child in regular school.