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Título
O desenho infantil, a leitura e a escrita braille na alfabetização de uma criança cega: contribuições da perspectiva histórico-cultural
Orientador
Rita de Cassia Antonia Nespoli Ramos
Autor
Fátima Aparecida Gonçalves Mendes
Palavra chave
Desenho. Cegueira. Braille. Linguagem escrita. Apropriação.
Grupo CNPQ
Programa
DR - EDUCAÇÃO (PPGE)
Área
CIÊNCIAS HUMANAS
Data da defesa
25/06/2021
Nº Downloads
277
Resumo
Iniciamos essa tese com algumas narrativas de pesquisadores cegos e a experiência que tiveram com a escrita. Esses relatos contribuem para que se entenda como o contato com a escrita pode ser difícil para a criança cega, pois, constantemente, ela é excluída de leitura de livros em braille ou atividade de desenho. Diante dessa problemática, este trabalho tem como objetivo compreender o processo de apropriação da escrita por uma criança cega, a partir de desenhos e de letras/textos, tendo como pressuposto teórico-metodológico a perspectiva histórico-cultural, principalmente os conceitos e procedimentos propostos por Vigotski (1988, 1995, 1998, 2000, 2007, 2009). Para este autor, os rabiscos e os desenhos operam como uma pré-escrita da criança. Além desse arcabouço teórico, a proposta é trazer as contribuições dos métodos de escrita, dentre eles, a alfabetização e o letramento, para compreender como a criança cega vai simbolizando a fala nos desenhos das letras até incorporar o conhecimento do sistema da escrita. É importante destacar que a escrita braille tem suas especificidades, embora os princípios básicos no processo de aprendizagem da leitura e da escrita sejam os mesmos para cegos e videntes, por esse motivo descrevemos também os procedimentos da escrita braille. Como metodologia, recortamos episódios nos quais são aplicadas atividades a uma criança cega atendida por esta pesquisadora em um centro de atendimento às pessoas com deficiência visual de uma universidade no interior do Estado de São Paulo. Trata-se de trabalhos desenvolvidos com Daniel, criança em processo de alfabetização, que compreende o período de 2018 a 2020. Na discussão e análise dos dados, levantados a partir da transcrição de áudio dos encontros e dos registros feitos nos diários de campo, foram levantados dois eixos de análise: 1. Desenhos; 2. Letras/textos. Como resultados, percebeu-se no caminho percorrido por Daniel, com relação aos desenhos, o quanto é prazeroso e essencial desenhar. Dos rabiscos passou-se para desenhos que apareceram como linguagem e possibilitaram à criança usar sua imaginação. Com relação às letras/textos, ela foi conquistando a habilidade de escrever, das letras foi ampliando para a escrita de palavras e depois de textos. Desenhos e letras/textos estão inter-relacionados. Por fim, compreendemos que a escrita não deve ser restrita a letras e a palavras soltas, pois, devido às dificuldades que apresenta, a criança cega precisa ser estimulada a desenhar e a escrever textos para refletir sobre o sistema da escrita.
Abstract
This text starts with some blind researchers’ narratives and the experience they had with writing. These reports contribute to understand how difficult the contact with writing can be for blind children, because they are constantly excluded from reading Braille books or drawing activities. In view of this problem, this work aims to understand the process of appropriation of writing by a blind child, from drawings and letters/texts, having as theoretical and methodological assumption the cultural-historical perspective, especially the concepts and procedures proposed by Vygotsky (1988, 1995, 1998, 2000, 2007, 2009). For this author, scribbles and drawings operate as a child’s pre-writing phase. In addition to this theoretical framework, the proposal is to bring the contributions of the writing methods, among them, initial reading instruction and literacy, to understand how the blind child symbolizes speech in drawings of letters incorporating the knowledge of the writing system. It is important to highlight that Braille writing has its own specificities, although the basic principles in the learning process of reading and writing are the same for blind and sighted people. As methodology, we selected episodes in which activities were applied to a blind child assisted by the researcher in a center for assistance to people with visual impairment at a university in the countryside of the state of São Paulo. The activities were developed with Daniel, a child in the initial reading and writing instruction process, in the period from 2018 to 2020. From the discussion and analysis of the data, raised from the audio transcription of the meetings and the records made in the field diaries, two units of analysis were raised: 1. drawings; 2. letters/texts. As results, it was noticed in the path taken by Daniel, regarding the drawings, how pleasurable and essential it is to draw. From scribbles, he moved on to drawings that appeared as language and allowed the child to use his imagination. As for the letters/texts, he was conquering the ability to write, and from letters he was expanding to writing words and then texts. Drawings and letters/texts are interrelated. Finally, we understand that writing should not be restricted to letters and loose words. Due to the difficulties presented, the blind child needs to be encouraged to draw and write texts to reflect on the writing system.