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Título

Museu da pessoa no contexto da cultura de vidro: experiência, arte de narrar e educação estética da escutatória.

Orientador

Belarmino César Guimarães da Costa

Autor

Angelina Cortelazzi Bolzam

Palavra chave

Histórias de vida. Narrativa. Memória. Experiência. Idoso.

Grupo CNPQ


Programa

DR - EDUCAÇÃO (PPGE)

Área

CIÊNCIAS HUMANAS

Data da defesa

24/11/2023

Nº Downloads

113

Resumo

Contar histórias é uma prática que atravessa os tempos e faz parte da natureza humana, mas o desenvolvimento desenfreado da técnica, das forças de produção a serviço do capitalismo e de uma educação vazia de significado histórico e cultural, desencadeia a impossibilidade de assimilação das situações cotidianas pela memória, cortando, portanto, o acesso do indivíduo à linguagem, de forma que não há que se falar em experiências a serem compartilhadas ou transmitidas. Houve mudança estrutural com a Modernidade, caracterizada por um modo de vida que institui nova temporalidade centrada na vivência individual, concomitante com a perda do sentido da experiência, resultante da vida coletiva. Assim, enquanto as relações individualizadas aumentam, as marcas da memória coletiva diminuem. Sem memória a ser cultivada, a Modernidade coloca suas bases para o reconhecimento de situação de perda da experiência, vinculando-se ao declínio da narrativa tradicional. Frente a esta problemática, o objetivo principal desta Tese é apresentar os movimentos da narração e da escuta (fluxo da conversação) de histórias de vida, como um processo educativo, advindo da arte de se fazer visível para si e para o Outro, para, então, estar/permanecer no Outro. Deste objetivo, o paradoxo: enquanto a experiência – advinda da Erfahrung –, é prejudicada pela sociedade mediada pela tecnologia, o Museu da Pessoa, apresentando-se como um museu virtual, produz um efeito contrário, isto é, oportuniza tanto o compartilhamento, quanto a escuta de experiências para socialização, como que um meio para o reaparecimento dos rastros/pegadas de indivíduos envoltos na cultura de vidro. Ao nos perguntarmos se a sabedoria que vem da experiência tem mais ou menos valor que os dados produzidos por pesquisas controladas, encontramos o Museu da Pessoa que pratica metodologias de produção, preservação e socialização de histórias de vida, a partir das memórias das pessoas, pela história oral. Pelo projeto intitulado Memória Oral do Idoso - desenvolvido pelo Museu da Pessoa, em 1991 -, apresentamos narrativas de histórias de vida de idosos para tentar captar as ressignificações de experiências daqueles que a narram e daqueles que a escutam. Os procedimentos metodológicos utilizados foram a pesquisa bibliográfica e a revisão da literatura, de maneira que os referenciais teóricos para o desenvolvimento desta trama estão ancorados em Walter Benjamin, Jorge Larrosa, Jeanne Marie Gagnebin, Michael Löwy, Ecléa Bosi, Karen Worcman e Paul Ricoeur. No mais, vale destacar que utilizamos de obras literárias de Henrik Ibsen, Homero, Jorge Amado, Lygia Bojunga, Monteiro Lobato, Viriato Corrêa, para abordarmos, além da questão geracional, da troca de experiências entre idosos e crianças, a forma com que as crianças veem o mundo, suas sensibilidades e seus valores, no sentido de elaborarem formas simbólicas próprias de relação com o mundo e de passagens bíblicas para o resgate da figura do narrador. Ao dispor em palavras o que se experiencia ou o que lhe foi contado, o narrador (artesão) lança a semente do contar, deixando suas marcas na matéria trabalhada, o escutador. Os narradores, então, dialogam e se transformam no tempo e no espaço. Desse estudo permitiu-nos refletir sobre a escuta do Outro como prática educativa de formação para a vida.

Abstract

Telling stories is a practice that spans time and is part of human nature, but the unbridled development of technique, of the forces of production at the service of capitalism and of an education void of historical and cultural meaning, triggers the impossibility of assimilating everyday situations through memory, therefore cutting off the individual's access to language, so that there is no need to talk about experiences to be shared or transmitted. There was, therefore, a structural change with Modernity, characterized by a way of life that institutes a new temporality centered on individual experience, concomitant with the loss of the meaning of the experience resulting from collective life. Thus, while individualized relationships increase, the marks of collective memory decrease. Therefore, without memory to be cultivated, Modernity lays its foundations for the recognition of a situation of loss of experience, linking itself to the decline of the traditional narrative. Faced with this problem, the main objective of this Thesis is to present the movements of narration and listening (flow of conversation) of life stories, as an educational process, arising from the art of making oneself visible to oneself and to the Other, to, then, being/remaining in the Other. Of this objective, the paradox: while the experience – arising from the Erfahrung – is harmed by society mediated by technology, the Museum of the Person, presenting itself as a virtual museum, produces an opposite effect, that is, it provides opportunities for both sharing, as for listening to experiences for socialization, as a means for the reappearance of the traces/footprints of individuals involved in glass culture. When we ask ourselves whether the wisdom that comes from experience has more or less value than the data produced by controlled research, we find the Museu da Pessoa that practices methodologies for the production, preservation and socialization of life stories based on people's memories, through history oral. Through the project entitled Oral Memory of the Elderly - developed by the Museu da Pessoa, in 1991 -, we present narratives of elderly people's life stories to try to capture the resignifications of life experiences of those who narrate it and those who listen to it. The methodological procedures used were bibliographical research and literature review, so that the theoretical references for the development of this plot are anchored in Walter Benjamin, Jorge Larrosa, Jeanne Marie Gagnebin, Michael Löwy, Ecléa Bosi, Karen Worcman and Paul Ricoeur. Furthermore, it is worth highlighting that we use literary works by Henrik Ibsen, Homer, Jorge Amado, Lygia Bojunga, Monteiro Lobato, Viriato Corrêa, to address, in addition to the generational issue, the exchange of experiences between elderly people and children, the way in which Children see the world, their sensibilities and their values, in the sense of developing their own symbolic forms of relationship with the world and biblical passages to rescue the figure of the narrator. By putting into words what is experienced or what was told to him, the narrator (craftsman) sows the seed of the story, leaving his marks on the material worked on, the listener. The narrators, then, dialogue and transform themselves in time and space. This study allowed us to reflect on listening to the Other as an educational practice of training for life.