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Título

A viagem filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira como experiência formativa no espaço colonial brasileiro do século XVIII

Orientador

Thiago Borges de Aguiar

Autor

Rafael de Paula Cardoso

Palavra chave

Alexandre Rodrigues Ferreira, narrativa de viagem, Ilustração, história natural

Grupo CNPQ


Programa

DR - EDUCAÇÃO (PPGE)

Área

CIÊNCIAS HUMANAS

Data da defesa

24/02/2022

Nº Downloads

347

Resumo

Em meados do século XVIII intensificaram-se os esforços da Coroa portuguesa no uso da história natural como método para catalogar a natureza do Reino e dos domínios ultramarinos. Esforço que se estendeu até as reformas educacionais na Universidade de Coimbra e, posteriormente, com a criação do Museu de História Natural durante o reinado mariano. Este trabalho estuda a formação do naturalista não só nos espaços institucionalizados, mas também analisa a suas experiências, práticas e diálogos vivenciados no espaço colonial. Pretendemos, a partir dessas experiências formativas, dar luz a novos indícios sobre o papel do espaço colonial na historiografia da educação colonial no século XVIII. Para esse estudo, analisaremos a Viagem filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), naturalista baiano formado na Universidade de Coimbra reformada, que sob orientações de Domingos Vandelli e da Coroa portuguesa, percorreu as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá entre os anos de 1783 e 1792. Ferreira, imbuído pelos ideais de leal funcionário régio, orientou o olhar imperial no controle e efetivação das reformas nas margens dos domínios coloniais e também buscou submeter a natureza, espécimes e as populações nativas sob os códigos classificatórios propostos pelos letrados e pela história natural. A partir da análise das representações construídas por Ferreira e de suas experiências, podemos perceber indícios e sinais que apontam para as experiências do naturalista em meio a zona de contato. Em seus diários, memórias, cartas e produção iconográfica, além de analisar a estrutura imperial, critica a prática de funcionário, tencionando-se com a precária estrutura imperial. Ao ponderar sobre a figura do indígena, materializada no homem americano, estabelece um diálogo com letrados e naturalistas europeus, muitas vezes tencionando paradigmas e representações históricas sobre os povos americanos. Atritos que demonstram as tensões entre os paradigmas utópicos de civilização em diálogo com o primitivismo, processo de pensar a alteridade do outro no espaço americano. Defendemos que essa tensão advém da orientação de Ferreira em enquadrar a realidade colonial na criação de uma História Natural das Colônias, que também são compartilhadas pelos letrados luso-brasileiros na redefinição do passado colonial a partir da perspectiva de um império luso-brasileiro. Esses pontos de tensão entre as orientações régias, olhar imperial, paradigmas ilustrados e as experiências vivenciadas por Ferreira apontam para a complexa formação que flui entre figuras distintas, mas com ideias semelhantes: o funcionário, o naturalista e o letrado.

Abstract

In the middle of the 18th century, the use of natural history as a method to catalog the nature of the Kingdom and their overseas domains was intensified by the Portuguese Crown. An effort that extended to the educational reforms at the University of Coimbra and, later, with the creation of the Museum of Natural History during the reign of Maria I. This work studies the formation of the naturalist not only in institutionalized spaces, but also analyzes their experiences, practices and dialogues experienced in the colonial space. From these formative experiences, it is intended to shed new light on the role of colonial space in the historiography of colonial education in the 18th century. For this study, the Philosophical Journey of Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) will be analyzed. Ferreira was a naturalist from Bahia trained at the reformed University of Coimbra who traveled through the captaincies of Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso and Cuiabá between 1783 and 1792 under the guidance of Domingos Vandelli and the Portuguese Crown. Ferreira, inspired by the ideals of a loyal royal official, guided the imperial gaze in the control and implementation of reforms on the margins of colonial domains and sought to submit nature, specimens and native populations under the classification codes proposed by scholars and natural history. Analyzing the representations built by Ferreira and his experiences, clues and signs that point to the experiences of the naturalist amidst the contact zone are perceived. In addition to analyzing the imperial structure in his diaries, memoirs, letters and iconographic production, Ferreira also criticizes the practice of an official raising tension against the precarious imperial structure. When considering the figure of the indigenous person, materialized in the American man, he establishes a dialogue with European scholars and naturalists, often putting strain on paradigms and historical representations of the American peoples. Frictions that demonstrate the tensions between the utopian paradigms of civilization in dialogue with primitivism, a process of thinking about the otherness in American space. We argue that this tension comes from Ferreira's orientation in framing the colonial reality in the creation of a Natural History of the Colonies, which are also shared by Luso-Brazilian scholars in the redefinition of the colonial past from the perspective of a Luso-Brazilian empire. These points of tension between the royal orientations, imperial gaze, illustrated paradigms and the experiences lived by Ferreira point to the complex formation that flows among different figures, but with similar ideas: the official, the naturalist and the literate.