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Título

CRIANÇAS AUTISTAS EM SITUAÇÃO DE BRINCADEIRA: APONTAMENTOS PARA AS PRÁTICAS EDUCATIVAS

Orientador

MARIA CECÍLIA RAFAEL DE GÓES

Autor

ALESSANDRA DILAIR FORMAGIO MARTINS

Palavra chave

CRIANÇAS AUTISTAS; BRINCADEIRA; EDUCAÇÃO ESPECIAL

Grupo CNPQ


Programa

MS - EDUCAÇÃO (PPGE)

Área

CIÊNCIAS HUMANAS

Data da defesa

18/02/2009

Nº Downloads

2735

Resumo

Em diversas descrições da criança autista é salientado que a brincadeira se apresenta de forma muito restrita e bastante peculiar, devido ao grave comprometimento geral de seu psiquismo. Contudo, as características dessa atividade tendem a ser mencionadas de maneira breve, como mais um dos sintomas do autismo, deixando-se de lado o fato de que o brincar diz respeito a uma esfera fundamental da vida infantil, com possibilidades de favorecer o desenvolvimento. Sob diferentes referenciais teóricos é afirmado que crianças autistas: 1) geralmente se comportam como se o outro não existisse e 2) a relação que estabelecem com o objeto é destituída de significado, tendendo a utilizálo em movimentos estereotipados ou como mero alvo de fixação. A partir de considerações da teoria histórico-cultural sobre o brincar, concebido como uma instância indispensável para a emergência de funções psíquicas superiores na infância, buscamos transpor as interpretações para a área do autismo. Com a preocupação na procura por práticas educativas promissoras, a presente pesquisa teve o objetivo de analisar os modos como crianças autistas se orientam para pessoas e objetos em situação de brincadeira. Os participantes do trabalho de campo foram três sujeitos, entre seis e doze anos de idade, que eram atendidos numa instituição especial, localizada numa cidade de pequeno porte do interior paulista. O trabalho de campo consistiu na realização de 13 sessões de brincadeira livre, com duração aproximada de trinta minutos cada. A pesquisadora coordenou as atividades, numa atuação que consistia em atribuir significação aos objetos, às pessoas e às ações em ocorrência, geralmente buscando desencadear jogos de faz-de-conta. A base de dados foi composta por registros em diário de campo e filmagens. As análises foram feitas segundo a abordagem microgenética. As situações registradas tiveram uma organização em três unidades temáticas: sorrindo e tocando; buscando provocar ações do outro; engajando em brincadeiras. Apesar do comprometimento global desses sujeitos, os achados indicam que a procura pelo outro pode ocorrer de diversas formas e que o uso do objeto não é apenas mecânico, como geralmente se interpreta. Constatamos que, em função dos modos de atuação da pesquisadora, emergiram muitos episódios em que se configurava o entrelaçamento das relações sujeito-sujeito e sujeitos-objeto. Isso sugere a necessidade de romper com uma certa visão dicotômica que põe a orientação para objetos em oposição à orientação para sujeitos, muito presente em estudos sobre autistas, e de apostar em mediações sociais que elevem seus modos de significar e interagir com o mundo. Para tanto, é preciso considerar não somente como o autista se relaciona com os outros, mas, sobretudo, como os outros se relacionam com o autista e, desse modo, buscar inovações nas práticas sociais voltadas ao tratamento e à educação dessas crianças.

Abstract

In different discussions, the play behavior of autistic children is usually described as very restricted and peculiar, due to the global impairment of their psychic development. However, these characteristics tend to be mentioned only briefly, as one of the symptoms of autism, and the descriptions do not take into account that play is a fundamental sphere of childhood, that can bring about essential possibilities of development. Various theoretical perspectives assume that autistic children: 1) generally behave as though the other did not exist and 2) establish with the object relations that are devoid of meaning, tending to use it in stereotyped movements or as mere target of fixation. Taking as reference the historical-cultural theory about play, conceived as an indispensable instance for the emergence of higher psychic functions in childhood, we attempted to transpose the interpretations to the area of autism. Concerned with the search for promising educational practices, the present research had the objective of analyzing the ways autistic children orient themselves to persons and to objects in play situations. For the field work we implemented free play sessions, with an approximate duration of thirty minutes each. The participants were three subjects, with age between six and twelve, who attended a special institution. This researcher coordinated the activities and interacted with children under the guideline of ascribing signification to the objects, persons and occurring actions, often seeking to trigger make-believe play episodes. The data base was composed by field diary notes and video-recording of 13 sessions, during a period of 7 months. The analyses were carried out according to a micro-genetic approach. The recorded situations were organized into three thematic units: smiling and touching; trying to produce actions of others; engaging in play. Despite the global impairment of these subjects, the findings suggest that the search for others’ attention may occur in several ways, and that the use of objects is not merely mechanical or meaningless. The researcher’s strategies of interaction allowed for the emergence of many episodes that configured the intertwining of subject-subject and subjects-object relations. This suggests the need to overcome a certain dichotomous view that puts the orientation towards objects in opposition to the orientation towards subjects, and to invest in social mediations that can expand processes of signification and interaction with the world. To this end, we must consider not only how the autistic child relates to others, but mainly how the others relate to the autistic child, and, thus, seek for innovations in the social practices involving treatment and education for these children.