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Título

O PAPEL DO OUTRO NA CONSTITUIÇÃO DO PSIQUISMO: UM TEMA E DUAS ABORDAGENS EM DIALOGIA

Orientador

MARIA CECÍLIA RAFAEL DE GÓES

Autor

CLÍCIA ASSUMPÇÃO MARTARELLO DE CONTI

Palavra chave

RELAÇÃO EU-OUTRO, DESENVOLVIMENTO INFANTIL, INTERAÇÃO SOCIAL.

Grupo CNPQ


Programa

DR - EDUCAÇÃO (PPGE)

Área

CIÊNCIAS HUMANAS

Data da defesa

16/04/2010

Nº Downloads

13580

Resumo

Partindo da problemática localizada na fronteira entre a psicanálise e a educação, a situação da “criança que não aprende” motivou o tema desta pesquisa, formulada nos termos do papel do outro na constituição do psiquismo. A fim de buscar redimensionamentos sobre o tema e sua decorrente eficácia frente à problemática eleita, o objetivo foi identificar diferentes fontes de contribuição, pondo em contato distintas abordagens. Pelo vértice histórico-cultural, focalizo proposições de Lev Vigotski (1896- 1934) e, pelo vértice psicanalítico, menciono algumas proposições de Sigmund Freud (1856-1939) que foram apontadas por Vigotski, estendendo-me, a seguir, em alguns conceitos de Donald Winnicott (1896-1971). O principal apoio metodológico foi dado por Mikhail Bakhtin, para quem textos de diversos autores que tangem o mesmo tema podem ser postos em dialogia, permitindo a perspectiva de que novos enunciados sejam originados pela própria tensão derivada entre as suas diferenças. Observo que o outro de Vigotski, como espaço/tempo social e semiótico constitutivo do psiquismo diferencia-se do ambiente na psicanálise de Winnicott, como instância de sustentação do ser e da continuidade do ser. Pela noção de mediação social semiótica, Vigotski tenta suplantar a dicotomia mundo interno/mundo externo, atribuindo um específico papel ao signo como instrumento que opera mudanças no sujeito. Winnicott tenta suplantar a mesma dicotomia, designando diferentes categorias de objeto (subjetivamente concebido, transicional e objetivamente percebido) com quem o ser humano se relaciona. Ambos os autores, por caminhos distintos, refletindo sobre o psiquismo que emerge da interação psicossomática e na relacionalidade, indicam possibilidades de superação do solipsismo. A pesquisa destaca como contribuições de Vigotski: a noção de proto-nós que afirma a condição do bebê como ser maximamente social, além da própria concepção de vida social, considerada também como instância suprassituacional e supraindividual, de modo que o outro não se limita apenas às pessoas que afetam a criança em presença. Dessas contribuições e das diferentes ideias de Winnicott sobre a dependência, o importante papel do ambiente na formação afetiva dos indivíduos e a psique que emerge da existência psicossomática decorre a hipótese de que há no início da vida um período de vulnerabilidade máxima do ser humano às ações, intervenções e significações advindas do outro para constituição do ser que aprende. Na intertextualidade entre os autores, o trabalho indica que falhas na formação simbólica podem revelar na sua gênese uma precariedade na constituição do si mesmo, e que situações nas quais emergem certas dificuldades de aprendizagem evidenciam vicissitudes sobre a qualidade das condições relacionais fundantes entre o eu e o outro. Problematiza-se, a partir disso, a importância de que espaços sociais constitutivos da subjetividade sejam especialmente cuidados e investidos, a fim de contribuírem para a geração de seres aprendentes. Finalmente, a especificidade dos profissionais na Educação Infantil é apontada como uma responsabilidade social, e as necessidades emocionais primitivas do bebê e da criança são consideradas como fatores primários, sobre os quais se sugere a possibilidade de estabelecer direitos conferidos à primeira infância.

Abstract

This study focuses on an issue that lies in the interface of psychoanalysis and education, i.e., the problem of “the child that cannot learn”, a theme that is here investigated in connection with the role of the other in the constitution of psychism. In an attempt to redimension that role and evaluate its pertinence to the issue under account, the objective was to identify sources of contribution from two different theoretical perspectives: the historical-cultural approach proposed by Lev Vigotski (1896-1934) and the psychoanalytic approach created by Sigmund Freud (1856-1939), more specifically in relation to propositions debated by Vigotski; concerning the psychoanalytic field, further theoretical developments are considered, with emphasis on some concepts by Donald Winnicott (1896-1971). The main methodological basis comes from Mikhail Bakhtin, to whom texts by different authors that touch the same theme may be put in dialogue, allowing for a perspective in which new enunciates are originated by the very tension derived from the differences between them. Vigotski conceives the other as the social and semiotic space/time constitutive of the individual’s psychic functioning; in Winnicott’s psychoanalysis this role is ascribed to the environment, as an instance of support and sustained continuity of the human being. Through the notion of social semiotic mediation, Vigotski attempts to overcome the dichotomy of internal x external world, taking the concept of sign as a fundamental explanatory principle of changes in the subject. Winnicott attempts to avoid the same dichotomy by ascribing different categories to the object (subjectively conceived, transitionally and objectivilly perceived) with which the human being establishes essential relations. Hence, through different paths and different interpretations about the psychic processes that emerge from the psychosomatic interaction and social relationality, both authors refuse the idea of solipsism as a characteristic of the beginning of human life. Concerning this matter, Vigotski’s contribution lies in the notion of “Ur-wir”, by which he states that the newborn is a maximally social being, as well in his broad conception of social life, conceived as a supra-situational and supra-individual instance, so that the definition of other cannot not restricted to the persons who interact, face to face, with the child. Winnicott’s contributions are linked to the notion of dependence and the important role of the environment in the affective and psychosomatic dimensions of individual processes. The hypothesis derived from these contributions is that in the beginning of life there is a period of maximal vulnerability of the human being to the actions, interventions and meanings of the other for the constitution of the learning being. In the inter-textuality between the authors, the study indicates that failures in symbolic formation can reveal in its genesis a precariousness in the constitution of the I, and that situations linked to learning difficulties may evidence vicissitudes in the quality of founding relational conditions between the I and the other. Hence, the social spaces that constitute subjectivity have to be especially cared and invested, so as to promote the generation of learning beings. Finally, the specificity of the work of professionals in the field of Education is interpreted as a matter of social responsibility, and the initial emotional needs of the child are considered as a primary factor of care and as incontestable rights of early childhood.